SÃO PAULO - O tremor de terra na última terça-feira assustou os animais em São Vicente, cidade onde o terremoto foi sentido primeiro e com maior intensidade.
Novos tremores não estão descartados
Especialistas dizem que não é possível descartar a possibilidade de novos tremores de terra na costa paulista. José Roberto Barbosa, técnico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), diz que após a ocorrência de um tremor podem acontecer outros "microtremores" no entorno do epicentro (a 215 quilômetros da costa de São Vicente), que podem ou não ser sentidos pela população.
O chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), Lucas Vieira Barros, também afirma que novos tremores de terra poderão ocorrer, mas a tendência é a de que tenham magnitude inferior aos 5,2 graus da escala Richter (que vai até 9) registrada terça-feira. Sobre a possibilidade de ocorrerem tremores mais intensos na mesma região, Barros disse que "não é impossível, mas é pouco provável".
O chefe do observatório disse que, se o epicentro do tremor fosse mais próximo da costa "poderia até matar". O abalo sísmico, sentido às 21 horas da última terça-feira no litoral paulista, capital e interior do Estado, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais, em um raio aproximado de 700 quilômetros, conforme o IAG, foi o sétimo maior registrado no Brasil em intensidade.
O tremor foi causado por fissuras na crosta terrestre, segundo José Roberto Barbosa. As fissuras, comuns em diversos pontos, estão relacionadas com o afastamento das placas tectônicas, movimento que começou há milhões de anos e é contínuo. O movimento natural das estruturas, explicou Barbosa, acaba criando uma tensão nessas falhas geológicas.
- É como esfregar duas pedras, uma na outra, até o momento em que sai uma faísca. Essa faísca é a força liberada pela tensão, assim como na tensão criada pela falha nas rochas - exemplificou o técnico do IAG. Terremotos não podem ser previstos
O técnico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, José Roberto Barbosa, lembrou que, em todo o mundo, não há como prever a ocorrência de terremotos. Nem há como saber onde estão as falhas geológicas na placa tectônica sul-americana, bem abaixo do Brasil, que ocasionaram os tremores de terra de maior magnitude até hoje. A única coisa que pode ser feita, acrescentou ele, é o mapeamento dos locais habitualmente acometidos pelos abalos sísmicos. Nesse sentido, tanto a USP quanto a Universidade de Brasília (UnB) possuem catálogos com relatos de tremores desde 1560.
- Temos catalogados registros de terremotos sentidos na época de Dom Pedro I - comentou o técnico.
Como não há como prever, ao menos há como fazer com que pessoas que moram em locais mais sujeitos aos terremotos estejam preparadas para uma possível ocorrência. No Japão, por exemplo, onde os terremotos são freqüentes pela proximidade com o encontro de duas placas tectônicas, há simulações em edificações para reduzir a possibilidade de mortes.
- Temos algumas estações sismológicas no Estado, mas a idéia é levar para outros locais - afirmou Barboza.
De acordo com o especialista da USP, o Brasil registra regularmente tremores de terra, sendo que as ocorrências se concentram nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Acre e no litoral do Sudeste.
Um mapa com todos os tremores de terra desde 1767 impressiona: cada ponto representa a ocorrência de um terremoto. Alguns, mais fortes, nem foram sentidos pela população. Outros, de menor magnitude (que atingiu menos graus na Escala Richter), tiveram uma maior percepção dos moradores do local. Isso porque os efeitos dependem também da profundidade em que ocorrem.
No Acre, por exemplo, há diversas ocorrências, mas a maioria com mais de 200 quilômetros de profundidade. Apesar do histórico de tremores, estragos significativos foram registrados somente no terremoto que atingiu o município de Itacarambi, no norte de Minas Gerais, ocorrido em 9 de dezembro do ano passado.
A ocorrência, de 4,9 graus, provocou o desabamento de casas e a morte de uma criança de cinco anos, a primeira vítima fatal deste desastre natural no Brasil. Mas por que um terremoto de menor intensidade causa maiores consequências do que o ocorrido na terça-feira? Em Itacarambi, a região atingida tinha muitas construções precárias. Se o epicentro do tremor fosse no meio da cidade, somente as construções de pior qualidade provavelmente sofreriam. Os prédios e casas com boas estruturas poderiam ter algumas trincas'.